é assustador como, à medida que se cresce, se perde o tempo para sofrer. até pode parecer macabra esta afirmação, mas é a verdade. e sim, tal como as alegrias, o sofrimento também merece o seu tempo. sou completamente a favor das dores sofridas e vividas nas alturas certas. (aliás a falta de tempo é um erro crasso da nossa geração - do qual sou protagonista repetidamente)


antes, quando estavámos na faculdade, se um namoro acabava era o drama, dias fechada em casa, cheios de choro, sem comer e a mãe preocupada a ligar constantemente a dizer que vai passar e nós sem acreditar. e realmente a vida voltava, e voltavamos sempre a ser felizes e bem dispostas.

hoje não temos tempo para isso, é chato é verdade, custa, mas temos que dormir porque amanhã o dia vai ser horrível, não há cá dias fechada em casa a dissecar os acontecimentos, com as amigas ao telefone. não, até as amigas ligam de fugida antes de irem de trabalhar ou na hora de almoço. se tivermos sorte pode ser que tudo aconteça antes de um fim-de-semana para podermos sentir-nos e sermos realmente desgraçadas por uns dias, pior que tudo, já nem precisamos que nos digam que vai passar, porque já sabemos, é uma questão de tempo. sim, o tempo cura sempre tudo e faz com que o inesquecivel vire esquecivel.

e esta realidade interfere comigo. se a falta de tempo para jantares, festas, é uma luta constante, a falta de tempo para viver qualquer coisa menos boa é assustadora e aflitiva. eu às vezes só queria um bocadinho de tempo para poder estar triste e recordar o que já me fez feliz. antes que o tempo faça com que me esqueça.

nica